25/06/2005 Texte

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Liban : une convalescence à haut risque

Uma convalescença de alto risco «A classe política, salvo raras excepções, foi contaminada e corrompida pela ocupação.»

O LÍBANO situa-se perigosamente entre duas águas. Voltou a página da ocupação síria sem se desembaraçar completamente dos agentes da ocupação nem dos seus numerosos colaboradores no seio da classe política e da comunidade de informação militar, destacados pelos serviços sírios. E ainda não atingiu a margem da salvação que provará que o país poderá voltar a ser a democracia e o Estado de direito que era antes da guerra, num Médio-Oriente povoado por regimes totalitários.

A fase de transição é difícil de gerir. A classe política, salvo raras excepções, foi contaminada e corrompida pela ocupação. As ingerências regionais e internacionais são múltiplas. O «directório» informal constituído por Paris, Washington, Riade e Cairo tenta manter o controlo sobre os libaneses.

Mas este «directório» cometeu diversos erros de apreciação: manter a lei eleitoral - congeminada pelo general sírio, Ghazi Kannan, em 2000, em proveito dos seus colaboradores - foi um grave erro de avaliação. Minimizar a corrente cristã, sequiosa de reconhecimento depois de 15 anos de marginalização, é outro erro. Pensar que o Hezbollah vai desarmar facilmente em cumprimento da resolução 1559 por um simples pedido de uma maioria parlamentar - enquanto os seus apoiantes sírios e iranianos continuam no poder - é outro erro de análise.

As dificuldades acumulam-se para um país que perdeu as suas referências e as suas defesas, onde os homens políticos e intelectuais caem na explosão de carros armadilhados. O «novo Líbano» vai ter de resolver rapidamente vários desafios colossais: decidir o futuro do Presidente da República, Emile Lahud, suspeito de estar envolvido no assassínio de Rafic Hariri. A comissão de inquérito internacional poderá, se a sua culpa for reconhecida, levá-lo à demissão e seguramente à prisão; organizar a coabitação entre um Presidente desqualificado, enquanto mantiver o cargo, e que se encontra em ruptura com a maioria parlamentar e o governo dela saído; desarmar o Hezbollah, porque nenhum Estado pode funcionar com duas forças de segurança: o exército oficial e uma milícia que tem o privilégio de estar mais bem equipada do que o exército e que, além disso, colabora com duas capitais estrangeiras, Damasco e Teerão.

Nada justifica este segundo exército: a ONU concluiu em 2000 que nenhum conflito territorial opunha o Líbano ao seu vizinho israelita. As «quintas de Chebaa» (22 km²) foram tomadas à Síria em 1967 e terão de lhe ser restituídas por Israel de acordo com a resolução 242 do Conselho de Segurança. O não-desarmamento do Hezbollah dará lugar ao aparecimento de outras milícias no Líbano.

Se o Líbano conseguir regressar à democracia, ela sairá reforçada entre os seus vizinhos. Se, pelo contrário, o regresso a um Estado de direito se malograr, anuncia-se que a dinâmica de desmembramento do Iraque, que está em curso, se propagará ao conjunto da região.

OBSERVATOIRE DES PAYS ARABES
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